Parkinson: paciente recebe células-tronco em tratamento experimental

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Pesquisadores buscam possível cura com a troca de células produtoras de dopamina danificadas por unidades saudáveis cultivadas em laboratório

Cientistas europeus realizaram o primeiro transplante baseado em células-tronco como parte de um estudo clínico para avaliar a eficácia de um novo tratamento para a doença de Parkinson. O feito, inédito, foi conduzido no fim de fevereiro por pesquisadores do Hospital Universitário Skåne, da Universidade de Lund, na Suécia, e divulgado nesta semana.

O paciente foi o primeiro de oito inscritos no estudo STEM-PD, todos com estágio moderado da doença e ao menos 10 anos de diagnóstico. Em colaboração com a Universidade de Cambridge e o Imperial College de Londres, ambos no Reino Unido, o trabalho busca descobrir se o transplante é uma possível cura para a doença neurológica – que hoje pode ter apenas os sintomas atenuados.

“Este é um marco importante no caminho para uma terapia celular que pode ser usada para tratar pacientes com doença de Parkinson. O transplante foi concluído conforme planejado e a localização correta do implante celular foi confirmada por uma ressonância magnética. Quaisquer efeitos potenciais podem levar vários anos. O paciente recebeu alta do hospital e as avaliações serão realizadas de acordo com o protocolo do estudo”, explica Gesine Paul-Visse, professora da Universidade de Lund e principal pesquisadora do transplante, em comunicado.

O Parkinson, um diagnóstico que acomete cerca de oito milhões de pessoas no mundo, é causado pela morte de células nervosas que produzem a dopamina, um neurotransmissor que atua na comunicação entre os neurônios. A terapia hoje é feita principalmente com medicamentos que buscam substituir o neurotransmissor, mas que com o tempo perdem a eficácia e provocam uma série de efeitos colaterais.

Porém, cientistas buscam maneiras de restaurar as estruturas danificadas e recuperar a produção da dopamina – o que possivelmente levaria a uma cura da doença. Uma das maneiras para isso em estudos é o transplante, um método inovador que pretende substituir as células por unidades novas e saudáveis.

O procedimento, que pela primeira vez é testado em humanos, envolve o cultivo de células-tronco embrionárias em laboratório, material que têm a capacidade de se transformar em qualquer tipo de célula adulta. Elas são produzidas para, ao amadurecer, tornarem-se células produtoras de dopamina.

O chamado “produto celular” foi testado em diversas avaliações pré-clínicas e aprovado pelas autoridades reguladoras da Suécia. A expectativa é que, ao serem transplantadas para o paciente com Parkinson, as novas células substituam as unidades danificadas e façam com que o corpo volte a produzir de forma correta a dopamina.

“O uso de células-tronco nos permitirá, em teoria, produzir quantidades ilimitadas de neurônios dopaminérgicos e, assim, abrir a perspectiva de produzir essa terapia para uma ampla população de pacientes. Isso pode transformar a maneira como tratamos a doença de Parkinson”, afirmou um dos pesquisadores envolvidos no estudo, Roger Barker, da Universidade de Cambridge, em comunicado no ano passado.

Ele conta que o procedimento de cultivo das células em laboratório é relativamente barato, o que torna possível realizá-lo em larga escala. A questão agora, diz, é saber se o transplante das unidades saudáveis de fato atuará com sucesso nos mecanismos da doença, algo que ainda levará alguns anos após a cirurgia para concluir. Porém, caso isso seja comprovado, já há planos para a oferta na prática clínica por meio de uma parceria com um laboratório privado.

“Mais estudos são necessários para mover o STEM-PD deste primeiro teste em humanos para um tratamento global e, portanto, trabalhamos em estreita colaboração com a empresa farmacêutica Novo Nordisk A/S. Suas contribuições para o estudo, bem como orientações operacionais e regulatórias, foram fundamentalmente importantes para iniciar este primeiro estudo em humanos e esperamos futuras colaborações”, diz Malin Parmar, professora da Universidade de Lund.

Fonte – Portal O Globo