Pesquisadores brasileiros criam pomada contra picada letal de aranha

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Ela é pequena, com um tamanho que varia de 0,6mm a 2cm, mas pode causar um estrago considerável. Todos os anos, a aranha-marrom pica cerca de 7 mil pessoas no Brasil, conforme dados do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan), do Ministério da Saúde.

O veneno dela pode causar necrose da pele, falência renal e até a morte das vítimas. Para diminuir esses problemas, cientistas do Instituto Butantan (IB) desenvolveram uma pomada, cujos efeitos curativos já foram comprovados em testes realizados em cultura celular e animais.

Segundo a pesquisadora do IB, Denise Tambourgi, principal responsável pelo trabalho, a pomada desenvolvida é feita à base de tetraciclina, substância conhecida e já usada como antibiótico. “Utilizamos numa concentração abaixo da que seria microbicida, no entanto”, explica.

“Ou seja, menor do que a necessária para ser considerado antibiótico. Mas a empregamos em uma dosagem capaz de interferir na atividade da esfingomielinase D, proteína que é o componente principal do veneno da aranha e que está envolvida no processo de inflamação e de destruição do tecido (necrose) e outros efeitos.”

Além de lesão cutânea — que ocorre em 80% dos casos e pode levar meses para ser curada —, a picada da Loxosceles também pode provocar, nos outros 20% das vítimas, efeitos sistêmicos, como hemólise (alteração, dissolução ou destruição dos glóbulos vermelhos do sangue), agregação plaquetária (que causa coágulos nos vasos sanguíneos, que dificultam ou impedem a circulação), inflamação e falência renal, que podem levar à morte.

Origem da pomada

A história das pesquisas de Denise que levaram à criação da pomada é longa. Ela começou o trabalho para decifrar os principais componentes da toxina da aranha-marrom em 1994. Para isso, ela e sua equipe lançaram mão da engenharia genética. Como cada Loxosceles produz muito pouco veneno — apenas cerca de 30 microgramas — seria muito difícil conseguir a quantidade necessária para os estudos. Então, os pesquisadores inseriram um gene dela na bactéria Escherichia coli, criando assim uma biofábrica da esfingomielinase D, passando a produzi-la em volume suficiente para as pesquisas.

Ao longo do trabalho, Denise e sua equipem descobriram que o veneno da aranha-marrom pode causar, além de efeitos já conhecidos, reações secundárias, que são desencadeadas principalmente pela proteína esfingomielinase D.

“Costumo dizer que o veneno só dá o ‘start’ e a proteína altera as células”, explica. “Depois, ocorre uma desregulação do organismo, que leva à produção de proteases — enzimas cuja função é quebrar as ligações químicas de outras proteínas, o que, por sua vez, causa a morte celular e a necrose. São essas proteases, portanto, que devem ser inibidas pela pomada.”

Resumindo, o estudo coordenado por Denise decifrou o mecanismo de ação do veneno lançado pela aranha-marrom e também a forma sistêmica e cutânea da doença.

Fonte: Portal G1


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