Por que devemos ter paciência com nosso corpo no puerpério

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Você conhece aquela foto perfeitinha: mãe bem plena, sorrisão no rosto, saindo da maternidade com o bebê nos braços enrolado no cobertor. A pele tá linda, o cabelo penteado e a barriga, vejam só, desinchou nos poucos dias no hospital. A gente já viu no cinema, nas novelas, na realeza – e quiçá, até já idealizou de maneira ingênua – mas a realidade, bem, ela não é assim.

Logo depois de parir, o corpo, que passou por mudanças ao longo dos 9 meses, está diferente. A mulher está passando por modificações físicas, transformações internas e adaptações de rotina, onde nada está estabelecido. Conhecido como puerpério, esta fase exige muito da mãe recém-parida.

Há, no entanto, uma glamurização ao redor da maternidade, onde premiamos e elogiamos quando uma famosa surge linda e sarada poucos dias após dar à luz. O desserviço está prestado. A mulher real, que acabou de parir, está ali se perguntando: “Por que ainda estou inchada e esta pessoa está com a barriga chapada? Por que eu estou confusa, com dores e ela ali postando fotos incríveis?”. Isto cria uma série de pressões e comparações que se somam às outras que a maternidade já traz. Parece simples escapar desta armadilha, mas pode acontecer.

“Pensar na boa forma no pós-parto é uma questão que nem deveria ser considerada. Socialmente tem um culto à magreza, onde a gente chega ao absurdo de achar que mulheres grávidas têm que estar magras”, comenta Gabriela Malzyner, psicóloga e membro efetivo da Clínica de Estudos e Pesquisas em Psicanálise da Anorexia e Bulimia (CEPPAN). “É inconcebível exigir isso de uma mulher neste momento. O pós-parto é muito importante pra vida psíquica da mãe e do bebê. Querer que ela se ocupe disto- e saia sem barriga do pós-parto – é oprimí-la, é ignorar um lado biológico da coisa”.

Em primeiro lugar, cada corpo tem seu tempo de recuperação. Quem diz é a medicina mesmo. “Na gravidez, existe um aumento de peso, que é necessário para saúde da mulher e do bebê. Tem também um aumento de líquidos pelo corpo, ao mesmo tempo em que há uma dificuldade na circulação e no retorno venoso pela presença de um útero pesando sobre o assoalho pélvico. Tudo isso faz com que fiquemos inchadas”, explica a obstetra Fabiana Garcia, uma das fundadoras do Espaço MAE, dedicado ao atendimento integral da mulher e da gestação.

Segundo ela, não existe uma medida de quantos quilos exatos a mulher perde depois de dar à luz. Para a maioria, o corpo estará recuperado em até seis meses, mas a perda de peso adquirido na gravidez pode acontecer em até 1 ano após o nascimento do bebê. “Depende de cada mulher, do tipo de parto, se teve alguma doença ou problema na gravidez. É bem individual”, explica a obstetra.

A psicóloga Gabriela concorda. “Cada corpo funciona de um jeito e cada mulher tem o seu tempo de voltar ou, quem sabe, nunca voltar ao corpo de antes. Se tem uma coisa que a maternidade produz na gente é mudança. Achar que vamos passar por uma gravidez e um pós-parto sem marcas é irreal”, pontua.

Guarde a capa de heroína, tá tudo bem!

Dar conta de amamentar, cuidar da criança, alimentar-se de maneira saudável, tentar dormir e, ainda por cima, estar com uma aparência padronizada de beleza é muita pressão. Dar conta de tudo é tentar ser uma heroína, aquele lugar, que bem sabemos, só traz frustração. “É preciso tempo para uma adaptação. O corpo leva 9 meses para gestar uma criança, não vai poder voltar ao que era antes em 1 dia. A experiência do pós-parto conta pra gente de um corpo novo que funciona de outra maneira. As pessoas precisam ter um pouco de paciência ou tolerância consigo”, conta Gabriela.

E, olha, tá tudo bem se você quiser emagrecer ou ter o corpo que deseja. Como já foi dito pelas profissionais, é preciso respeitar as particularidades de cada mãe e como ela se sente em relação à própria aparência. O que está em questão é impor limites e saber reagir diante da pressão social para se ter um padrão de beleza em um tempo que não respeita a sua individualidade.

“Seria bom que ela pudesse ir perdendo este peso com tranquilidade, lentamente, sem nenhuma exigência que seja ditada pela mídia. Com acompanhamento da nutricionista para não deixar de comer aquilo que ela e o nenê precisam”, explica a obstetra, que recomenda a importância da amamentação e das atividades físicas leves na perda do peso.

Aqui entra também a questão da criticada – e tão utilizada – cinta. Neste período do pós, não deveria ser tratada como um acessório estético de chapar a barriga, mas como um aliado para uma reclamação comum das mães recentes: segurança. “Depois que o nenê nasce, muitas mulheres sentem como se tudo estivesse meio solto dentro do abdômen, então a cinta traz uma segurança, de organização dos órgãos, mas ela é só uma sensação”, explica a obstetra. Segundo ela, é preciso usar com moderação para que não substitua o trabalho do músculo retro-abdominal, deixando-o relaxado.

Mas por que a barriga flácida incomoda tanta gente?

Pense nisso: quando estamos grávidas, a barriga vai crescendo ao longo dos 9 meses e temos este tempo pra nos acostumar. No entanto, temos a consciência de que é transitório, logo este barrigão não fará mais parte deste corpo. Só que quando o bebê nasce, magicamente parecemos ter a obrigação de voltar ao corpo inicial e isto não é uma conta simples. Acrescente aí, cólicas por conta do útero retornando ao tamanho normal (100 vezes menor do que o tamanho que fica na gravidez), sangramentos, dores da cirurgia (caso, tenha sido cesárea), rachaduras nos seios por conta da amamentação…tudo deve ser levado em consideração no puerpério. “A barriga denuncia uma humanidade. Não é nem a barriga de grávida, sagrada, e nem o corpo que você tinha antes. É um outro corpo que você não teve tempo de se acostumar ainda”, explica a psicóloga.

O conselho que une psicologia e medicina é: tenha paciência, amiga. Tudo tem seu tempo e você ainda está se adaptando à tarefa de ser mãe e de cuidar de uma nova vida. Seja gentil com você. Em todos os sentidos.

Fonte: Portal Me de Mulher


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