Pandemãe: Os desafios da maternidade em época de coronavírus

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Há muito tempo o avental todo sujo de ovo não define o significado de ser mãe. A mulher de hoje é dinâmica e multifacetada e a maternidade é apenas mais uma de suas facetas, provavelmente a mais importante, a mais complexa e a mais apaixonante delas.

A luta das mulheres pela conquista de seu espaço na sociedade, em especial no mercado de trabalho, é uma história que permeia a trajetória da humanidade. Esta história ainda tem muitos capítulos a serem escritos, e, no momento, um capítulo com cara de ficção científica parece cobrar ainda mais força e braveza das mulheres, em especial das mulheres mães.

Este capítulo seria mais ou menos assim: de repente um vírus novo, potente, de efeitos catastróficos e características desconhecidas atingiu todo o mundo. O isolamento social parecia ser a única estratégia de guerra possível e o lar o único refúgio minimamente seguro. Então, as estruturas da vida cotidiana ruíram…

E, na vida real, as crianças ficaram sem poder ir às escolas, creches, casas dos avós. Pais e mães, desde que possível, tiveram que se adaptar à nova rotina de trabalho remoto e de trabalho doméstico. A maternidade agora precisa ser exercida 24 horas por dia e nem sempre as tarefas podem ser divididas com alguém. Lavar, passar, cozinhar, cuidar, brincar, distrair, ensinar, preocupar e não surtar.  Muitas mães estão trabalhando de casa, portanto, precisam lavar, trabalhar, passar, trabalhar, cozinhar, trabalhar, cuidar, trabalhar, brincar, trabalhar, distrair, trabalhar, ensinar, trabalhar, preocupar, trabalhar e não surtar. E, na maioria das vezes, as atividades são feitas todas ao mesmo tempo.

A imagem que ilustraria este capítulo da história poderia ser uma mãe com um filho num braço e um notebook no outro. Esta realidade se aplica à grande parte das mães do IF Sudeste MG, que, devido à natureza de suas funções, podem exercê-las em esquema de home office, ou melhor, de homãe office.

Vamos conhecer algumas das mães para saber de seus medos e desafios em meio à tarefa de ser mãe em tempos de pandemia:

Mãe porreta

Sandra Esteves é daquelas mulheres “porretas”, como se diz em Novo Cruzeiro, cidade onde nasceu e se criou, no norte de Minas Gerais. Foi lá que também ganhou aquele que considera ser o melhor presente da sua vida: o filho Wesley Esteves, hoje com oito anos. Sozinha, decidiu partir para Juiz de Fora, quando ele tinha dois anos, deixando amigos e família, mas a necessidade falou mais alto. “Ser mãe é descobrir forças que você achava que não tinha e lidar com medos que você achava que não existiam. É uma verdadeira prova de coragem”.

Logo de cara conseguiu um emprego como terceirizada no Campus Juiz de Fora, onde está até hoje. Em seis anos, Sandra montou sua casa e ajudou suas irmãs, Leidiane e Selma, que vieram morar com ela. E neste tempo de quarentena, haja criatividade para o tempo passar mais rápido. Além de se revezarem em ajudar Wesley nas lições escolares, também se aventuram na cozinha. E é assim, em volta da mesa, diante de um delicioso prato, que a família vai estreitando os laços. “Minha maior felicidade é ter o amor do meu filho e mais do que isso, é saber que ele reconhece e valoriza a força de uma mulher e sabe do que ela é capaz, independente da dificuldade”.

Mãe de muitos

Quem também está aproveitando a quarentena para ficar mais próxima do filho é a professora Vânia Xavier, do Campus Rio Pomba. Em sala de aula, Vânia é a “mãe” de seus alunos. Em casa, ela é a mãe do Guilherme, de 5 anos, e da Mariah, que deve nascer em agosto.

Mesmo trabalhando em casa, a rotina da professora passou a ser mais árdua. Os horários dela e do marido estão em função do filho. “Um fica com ele na parte da manhã, o outro à tarde. Nestes horários, a gente faz as tarefas da escola, brinca de carrinho. A gente procura fazer sempre alguma coisa diferente”.

A quarentena tem aproximado Vânia e Guilherme. Quando está dando aula, ela sai de casa antes de o filho acordar e só o encontra ao final do expediente. “Acho que, quando eu voltar, vou sentir muita falta de acordar com ele, de levá-lo para escovar os dentes, de tomar o café da manhã. Estamos cada dia mais próximos, ainda mais com a gravidez”.

A gravidez durante a quarentena ainda fez Vânia redobrar os cuidados com a saúde. Ela só tem saído de casa para ir às consultas médicas. “A gente fica doida para mostrar o barrigão (risos). Mas eu estou presa em casa, só saindo para o essencial”.

Mãe com fé

Suellen Caetano Moreira é aluna do curso de Pós-graduação em Práticas Pedagógicas na Educação Contemporânea e Licenciatura em Matemática do Campus Santos Dumont. Além disso, é mãe de duas meninas: Luiza, 7 anos; e Maria, 1 ano e 8 meses.

“Ser mãe em meio a esta pandemia que assombra o mundo é dormir e acordar todos os dias orando e pedindo a Deus que nos permita ter saúde. É manter a rotina mesmo querendo dormir até meio-dia, pois a saúde mental e física da família depende destes esforços. É fazer mil planos pessoais e ver muitos deles (a maioria) irem ralo abaixo, pois neste momento priorizamos os momentos em família. São estas lembranças que queremos guardar.  Ser mãe em meio à pandemia, é também se reinventar na cozinha e nas atividades educativas, fazer tudo que era inimaginável dentro de um apartamento, e, de presente, ganhar sorrisos e abraços. Ser mãe, e ser humano, nesta pandemia nos faz pensar e perceber que os tempos são difíceis, mas são mais leves quando temos quem amamos junto de nós fisicamente, ou mesmo que só em pensamento”.

Mãe amiga

Valeska Aparecida de Almeida Silva é Coordenadora de Execução Orçamentária e Financeira do Campus Muriaé e mãe da Alice, de 7 anos. Para ela, ser mãe é algo maravilhoso na vida de uma mulher. “Enfrentamos desafios diários, mas nunca pensei em viver dias como estamos vivendo. Esta pandemia nos trouxe o distanciamento e o isolamento social e com isso nós temos que nos reinventar a cada dia. Além de ser mãe, agora eu sou a professora, a amiga, sim, tenho somente uma filha e eu sou a pessoa com que ela pode contar para brincar, para conversar e até mesmo para “brigar”.  Tenho vivido um dia de cada vez, na certeza de que tenho feito o melhor por ela, não só por ela, mas pela nossa família”.

Valeska trabalha de casa e aposta na manutenção de uma rotina para fazer tudo funcionar: “Tenho trabalhado no home office e isso foi o que aquietou o meu coração. Poder estar em casa executando meu trabalho me deu a oportunidade de estar por perto e no controle de tudo dentro de casa. Não é fácil, mas também não é impossível. Eu criei uma rotina como se tivesse que ir trabalhar presencialmente, tanto para mim como para a Alice. Então pela manhã ela tem as aulas on-line, e eu tenho o meu trabalho. Ela tem a hora de brincar e eu de fazer o almoço. Concilio as tarefas de casa e vamos dando um jeito para tudo. À tarde é a mesma rotina, ela assiste às aulas e eu fico atendendo à demanda do serviço. E juntas temos dado conta e nos adaptado a cada dia, sempre tentando ter uma rotina mais leve, para no final do dia podermos ser apenas mãe e filha”.

Mãe do coração

“Meu nome é Amanda, sou técnica em assuntos educacionais no campus São João del-Rei e tenho uma filha chamada Ana Júlia. Ela tem 3 anos. Ser sua mãe é, sem dúvida, a experiência mais linda, transformadora e potente que eu poderia viver. Costumo dizer que ela não nasceu de mim mas nasceu para mim, porque foi um verdadeiro encontro de almas!

A adoção sempre foi meu “plano A” ,e, por isso, minha gravidez do coração, apesar de muito longa, foi bonita e serena, vivida com muito amor por toda a família! Quando a Ana Júlia chegou para mim, com apenas 3 meses de vida, encheu minha vida de cor, ternura e esperança! Sempre procuro estar conectada emocionalmente com ela e, nesta pandemia, esta experiência está ainda mais intensa. Não tenho medido esforços para estar o máximo possível presente em suas brincadeiras e descobertas, mesmo em meio ao trabalho remoto e à toda insegurança que este momento nos impõe. Tem sido também um exercício diário de acolhimento e cuidado em tempo integral. Sou profundamente grata pela dádiva de ser sua mãe e por a Ana Júlia ter me escolhido naquele dia inesquecível do nosso encontro!”.

Fonte: Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Sudeste de Minas Gerais


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