Depressão pós-parto: como diferenciar o transtorno do estresse da pandemia?

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Quando você se torna mãe, a vida muda. Mas se você se torna mãe no meio de uma pandemia global tudo é novidade. Ao levar o filho no pediatra, no mês de abril de 2020, um médico entregou para uma mãe um folheto da Escala de Depressão Pós-Parto de Edimburgo. A ferramenta de triagem, desenvolvida na Escócia em 1987, tem 10 perguntas e é usada em todo o mundo para detectar uma variedade de transtornos de ansiedade e humor perinatais, como depressão pós-parto ou ansiedade pós-parto.

As opções do formulário variam de: “eu tenho sido capaz de rir e ver o lado engraçado das coisas”, até “a ideia de me machucar já me ocorreu”. Cada resposta recebe um valor numérico. Quanto maior a pontuação, maior a probabilidade do respondente sofrer de depressão pós-parto. Tradicionalmente, o método é considerado o “padrão ouro” das ferramentas de rastreamento pós-parto, uma vez que rastreia ansiedade e depressão (e não apenas depressão). O procedimento é usado em consultórios médicos e hospitais.

Mãe de três filhos, a mulher já estava esperando o questionário, no entanto, com o caçula, ela se viu tendo dificuldade de responder as questões – mas, uma em específico: “Eu tenho esperado pelas coisas com… A) tanto prazer quanto antes; B) um pouco menos do que antes; C) definitivamente menos do que antes; D) quase nada”. A paciente disse ao médico em um tom de humor que com a pandemia do novo coronavírus tudo havia sido cancelado – no entanto, ela não estava realmente brincando. A verdade é que ela não tinha expectativas sobre nada. Ao sair do consultório, a mãe se perguntou se a ansiedade e a tristeza estavam ligadas à situação atual ou se era depressão e ansiedade pós-parto.

No primeiro mês em casa com o terceiro filho, a mãe passou a maior parte do tempo se escondendo no quarto chorando. Ela relatou que tinha ainda menos paciência sobre qualquer infração dos filhos mais velhos ou do marido, o que a fez se questionar se ela estava lutando contra os efeitos da pandemia ou passando por algo mais grave. Segundo ela, a pontuação que fez no EPDS estava na extremidade superior, no entanto, não indicava nenhum distúrbio clínico de saúde mental. Em vez disso, parecia que o peso da pandemia provavelmente era o culpado.

Vale ressaltar que é compreensivo você não conseguir distinguir a diferença entre a depressão pós-parto e o estresse da pandemia. E, embora nunca seja sua tarefa diagnosticar uma condição de saúde mental, estar ciente dos sinais e sintomas, educar as pessoas ao seu redor e ser um paciente informado pode ajudar muito a obter a ajuda que você precisa.

Converse com seu médico – Se o seu médico não usou o EPDS ou uma ferramenta semelhante para ajudar a rastrear um possível transtorno pós-parto, inicie essa conversa. Os exames ajudam a diagnosticar a depressão e ansiedade pós-parto e isso é importante. Receber um diagnóstico real delas pode evitar com que você sinta que seus sintomas são simplesmente algo que você precisa superar.

Segundo Mary C. Kimmel, MD, codiretora do Programa de Psiquiatria Perinatal da Universidade da Carolina do Norte, chamar algo de “depressão pós-parto” ou “ansiedade pós-parto” mostra que há um componente médico que precisa ser abordado, que pode ser útil para encorajar as mães a buscar ajuda.

Faça um teste de ‘se sentir bem’ – Existem algumas maneiras de te ajudar a resolver a diferença entre “não tenho expectativas para as coisas porque estou deprimida” e “não tenho expectativa para as coisas porque as situações fora da minha vida estão ruins”. Por exemplo, você se sente animada ou pensar em pequenas coisas como uma xícara de café quentinho pela manhã, ou assistir seu programa favorito na Netflix?

Se a resposta for não, você pode estar sofrendo de depressão pós-parto, afirma Paige Bellenbaum, diretora-fundadora do The Motherhood Center, um centro de atendimento emocional às mães em Nova York. Além disso, se você acha que está tendo dificuldade para tomar decisões, se você sente cometeu um grande erro ao ter um bebê, ou até se você já pensou em dar o seu bebê, sua depressão provavelmente está relacionada ao pós-parto. Também é importante notar que os sintomas do transtorno psicológico são diferentes e duram mais do que os sentimentos de tristeza e ansiedade que muitas mães experimentam nas primeiras duas semanas após o parto.

Durante a pandemia seus sintomas podem ter uma aparência mais ansiosa. Focar demais na COVID-19 e na saúde e segurança do seu bebê também é sintoma comum da depressão e ansiedade pós-parto atualmente. Segundo Bellenbaum, outros sintomas frequentes são: auto-isolamento, sentir-se completamente sozinha, sentir-se irritada e com raiva por coisas não saírem como você esperava, e lamentar a perda do que você achava que seria a sua maternidade.

“A maternidade é romantizada”, aponta Bellenbaum. “Somos alimentados com tantos mitos sobre o que pensamos que será a maternidade que, quando não for assim – e quase sempre não é – pensamos que somos a única pessoa que está passando por isso ou que somos uma péssima mãe e que todo mundo já descobriu”. Tudo isso é especialmente verdadeiro e se reforça agora com o isolamento social.

Para Dr. Kimmel, a maneira mais importante de combater esses sentimentos e tratar os transtornos pós-parto é descobrir qual o suporte que você precisa e certificar-se de ter acesso a ele. Em alguns casos, o suporte está a apenas alguns cliques de distância. Algumas organizações podem conectá-la a profissionais de saúde mental perinatais treinados (que você pode ver virtualmente!), além de grupos de apoio e medidas práticas que você pode realizar imediatamente em casa.

Por fim, lembre-se: a depressão e ansiedade pós-parto são altamente tratáveis, mas sem tratamento eles podem continuar por bastante tempo. “Quanto mais cedo identificarmos um transtorno pós-parto, mais cedo poderemos tratá-lo e mais rapidamente a mãe poderá começar a desfrutar da maternidade”, reforça Bellenbaum. Sim, mesmo em uma pandemia.

Fonte: revista Pais e Filhos


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