Criança não é adulto: entenda os perigos de acelerar a infância do seu filho

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Fuja da adultização! A infância tem data para começar e acabar. Então, curta (de verdade!) cada momento dessa fase antes que ela termine

Antes de qualquer coisa, a criança tem o direito de ser criança. E isso significa poder brincar, estudar, fazer amigos e ter o amor e proteção da família. Em alguns lares, é comum vê-las assumindo papéis que não cabem à idade e ao preparo psicológico delas. Seu filho não deveria precisar se preocupar com os problemas do casamento ou financeiros, por exemplo. Por mais maduro que seja, ele não pode assumir alguns pesos e responsabilidades que cabem apenas aos adultos.

Criança ocupada demais deixa de ser criança

Nas últimas décadas, é cada vez mais frequente a preocupação excessiva (mas legítima) dos pais com o futuro dos filhos. O problema não é a preocupação em si – afinal, você deseja sempre o melhor do mundo para o seu filho – mas sim as soluções buscadas. Uma pesquisa feita em 2018 pelo portal médico WebMD, nos Estados Unidos, mostrou que 72% das crianças entre 5 e 13 anos demonstram sinais de estresse e que 60% dos pais não notam. Em meio à correria do dia a dia, temos visto crianças pequenas superatarefadas e estressadas com tantas atividades. É aula de idiomas, robótica, natação, música, esportes, balé, aulas particulares de reforço. Na tentativa de preparar seu filho para o futuro e investir em uma educação de qualidade, você pode acabar esquecendo da verdadeira obrigação dele: ser criança, e não um miniadulto.

 Criança precisa se vestir como criança

A infância é aquele momento gostoso da vida em que somos livres para nos divertirmos e sermos quem quisermos. E as crianças têm que se vestir adequadamente para poder explorar o mundo que estão descobrindo. Afinal, o que queremos dizer é: criança deve se vestir como criança. Nada de adultização e vulgaridade, ok? Tudo tem a idade certa para acontecer. Ensinar seu filho a se vestir e a escolher sua própria roupa é uma tarefa que exige a educação e ajuda dos pais.

Não é tudo que pode e que você deve deixar seu filho usar. É normal para os pequenos o desejo de copiar a roupa e a maquiagem da mãe ou a fantasia daquele personagem de filme, por exemplo. Elas querem imitar quem admiram e brincar de ser gente grande. Mas é exatamente nesta fase que os filhos devem começar a entender que precisam crescer para poder usar ou fazer algumas coisas, como passar um batom forte, pintar as unhas da cor que quiser, usar salto ou gravata. Quando o assunto é roupa das crianças, tudo pode se resumir em conforto e diversão. Seja menino ou menina, seu filho pode usar camisetas e outras peças da cor que preferir. Criança precisa se sentir bem e confortável com a roupa que estiver vestindo, sempre de acordo com a idade que tem.

Brincadeira é coisa séria!

A ciência já comprovou que a criança, nos seus primeiros anos de vida, precisa de um bom tempo para brincar livremente. Pular, correr, imaginar, criar e estar em constante movimento, tanto mental quanto corporal, contribui para o desenvolvimento social, emocional e cognitivo. “Toda e qualquer brincadeira é benéfica para o desenvolvimento da criança. É um equívoco pensar que as brincadeiras possam ter condições para melhorar um ou outro domínio do desenvolvimento humano”, explica Mônica Caldas Ehrenberg, professora doutora da Faculdade de Educação da USP, especialista em Cultura Corporal.

Pular corda, por exemplo, não é responsável somente pelo desenvolvimento motor. Essa brincadeira também desenvolve as noções de espaço e tempo – afinal, a criança precisa calcular o momento exato de pular – e a capacidade de respeitar regras, já que se ela tirar os pés do chão fora de hora, vai errar o movimento.

Nada melhor do que incentivar esse tipo de atividade longe do tablet e do celular. “Para que as crianças entendam que é preciso saber brincar sem os eletrônicos, os pais devem ser o exemplo, principalmente na primeira infância – que é até os 6 anos. Os pais também devem lembrar de reservar todos os dias, pelo menos meia hora para brincar somente com os filhos. Quando a família direciona esse tempo, o momento fica com cara de férias, a criança vai sentir esse período valorizado e criar uma estrutura emocional”, explica a pedagoga Maibí Mascarenhas.

 Esteja presente (de verdade) na vida do seu filho

Criar filhos é, sem dúvida, a tarefa mais difícil da vida. A família atual mudou muito de configuração e uma nova sociedade foi criada. Mas em meio aos novos papéis, uma coisa nunca muda: seu filho continua precisando do convívio com você. E a importância desse convívio não está na quantidade de tempo dedicado a ele, e sim na qualidade. Os responsáveis devem ser capazes de enxergar nos filhos as suas reais necessidades, e não encher a criança de mimos ou presentes para suprir algum tipo de culpa. “Os pais são a primeira referência das crianças. Sem eles, o filho cresce tentando se adaptar ao mundo sem essas referências. Os pais são o apoio, que ensinam a importância do limite”, explica Renata Bento, psicóloga e psicanalista, membro da Sociedade Brasileira de Psicanálise do Rio de Janeiro.

A criança precisa se sentir amada e assistida, perceber a importância que tem para os pais. Aquela conversa clássica, mas que precisa ser resgatada e mantida, — Como foi o seu dia? O que fez na escola? — faz seu filho perceber que é muito importante para você, independentemente da quantidade de horas que passam juntos por dia.

Criança tem personalidade (e responsabilidade), sim!

Muito mais do que uma faixa etária, a infância é uma etapa de grandes aprendizados. Ser criança também é ter o direito da autenticidade. Apesar de estar sob a responsabilidade dos pais, cada criança é única, com o direito de se descobrir individualmente e desenvolver sua personalidade. Seu filho precisa se sentir guiado, protegido e acompanhado, e não apenas comandado. “Os pais devem cuidar, educar, dar autonomia e limite. Tudo isso é proteger. Ao mesmo tempo em que essas crianças vão viver dentro de casa, elas também vão viver no mundo. Ser aberto não significa ser permissivo. Existe um equilíbrio”, aconselha Renata. A linha que separa a autonomia e o limite é bem tênue. A geração de hoje é uma das mais inteligentes, mas também uma das mais frágeis. Por isso, um bom caminho é ser aberto ao diálogo, oferecer apoio e carinho, mas também deixar que seu filho tenha contato com erros e frustrações sozinho. “O papel dos pais não é somente formar um filho feliz, mas sim preparado também para as perdas e angústias”, explica Camila Cury, psicóloga e especialista na Teoria da Inteligência Multifocal.

Fonte: revista Crescer


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