Cientistas usam células-tronco para tratar doenças em cavalos no Brasil

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As células-tronco são base para pesquisas importantes da medicina humana e podem curar ou reconstruir partes de tecidos de órgãos, nervos, ossos, coração. E elas também podem curar animais. Cientistas estão fazendo estudos de ponta que usam essas células para tratar doenças de cavalos.

Quisling e Bamba foram diagnosticados com bambeira. Comanche, com uma fratura grave, com múltiplos fragmentos. Dama teve um tendão lesionado. Os quatro cavalos têm histórias diferentes, mas que se juntam em um mesmo desfecho: eles fazem parte de um pequeno grupo que passou por terapias com células-tronco no Brasil.

As células-tronco existem nos embriões, antes da formação dos fetos, e também em animais adultos, onde há estoques para a renovação natural do corpo. São células bem novas, que ainda não ganharam missão específica para virar, por exemplo, ossos, músculos, órgãos do corpo. Por isso, elas podem atuar em todo o organismo.

A pesquisadora Ana Liz Garcia Alves estuda células-tronco na faculdade de medicina veterinária da Unesp, em Botucatu, há 14 anos e afirma. “A célula-tronco melhora muito a qualidade de reparação da lesão. É um reforço no tecido doente, mas não só. A função mais importante dessa célula, que a gente vê hoje, são ações indiretas, principalmente de regular a função imune do organismo, uma ação anti-inflamatória, que minimiza a morte celular, e uma ação de melhorar ou aumentar o número de vasos sanguíneos na região”.

Para que a pesquisa seja feita, a universidade precisa de casos práticos e cavalos de proprietários privados participam do estudo. Há várias fontes de células-tronco. As adultas, usadas na pesquisa, não vêm dos embriões. Podem ser retiradas da gordura acumulada na garupa, abaixo da pele, por exemplo, ou da medula óssea (ou tutano), líquido que fica dentro dos ossos do cavalo.

No laboratório, essas células-tronco são separadas das células comuns e multiplicadas. “Um pequeno fragmento de gordura, a gente consegue expandir em 20, 30 milhões de células”, diz Alice Maciel, veterinária e mestranda da Unesp. O material já pronto é conservado a temperaturas baixíssimas, de onde só sai para ser aplicado em cavalos.

Fraturas – Na ortopedia, as células-tronco são usadas nas fraturas e para tratar tendinites, osteoartrites e artrites dos equinos. O cavalo Comanche teve uma fratura grave, em múltiplos fragmentos. Além da cirurgia para a colocação de pinos e imobilização, ele recebeu células tronco no ponto da fratura. Ele se recupera bem e já está em casa.

“Entra como um complemento, acelerando a regeneração óssea. O que é interessante, é que em muitos casos de fraturas de membro de equinos, principalmente as graves, nós tínhamos que sacrificar os animais”, explica a doutora Ana Liz.

Fertilidade – Outra frente de pesquisa avança na área reprodutiva, para o tratamento da endometrite, uma infecção que ataca o útero e pode levar à infertilidade. “Nós escolhemos um grupo de éguas que tinham um problema de fertilidade grave, que já não gestavam, não produziam embrião, a maioria delas era doadora de embriões”, conta o veterinário Marco Antonio Alvarenga.

As células são aplicadas na parede do útero, das 15 éguas tratadas com a tecnologia, 6 voltaram a ter a função uterina e ficaram praticamente curadas da infecção e 8 retomaram a ter capacidade de produzir embriões.

Lesões – A égua Dama é atleta e faz prova de 3 tambores. Segundo o cavaleiro Rodrigo Papadopoli, ela teve um rompimento de fibra no tendão e recebeu as células-tronco em cima da lesão. “Antes de usar a terapia celular, a gente conseguia fazer algumas terapias que, na minha opinião, não eram tão efetivas no tempo, na qualidade do tecido e na rapidez da cicatrização”, avalia o veterinário Alfredo Ferri. Dois meses após a aplicação das células-tronco, verificou-se o preenchimento do tendão, uma cicatrização da lesão.

Bambeira – O tratamento também está mudando o enfrentamento a uma doença muito temida: a EPM, mais conhecida como bambeira, que faz com que o animal perca a estabilidade ao caminhar. Ela é provocada por um protozoário encontrado em animais silvestres, como o gambá. As fezes podem contaminar alimentos e, por consequência, os cavalos. O protozoário ataca o sistema nervoso central e embaralha as ordens entre o cérebro e os músculos. Alguns casos são leves, outros podem deixar sequelas e até levar à morte.

Doutor Rogério Amorim, da Unesp, estuda o uso de células-tronco para doenças neurológicas e testou o protocolo em nove animais, com bons resultados. “É importante destacar que não estamos propondo que se use as células-tronco mesenquimais como a primeira alternativa terapêutica para casos de EPM. O tratamento hoje preconizado e reconhecido, cientificamente comprovado, é o tratamento com antiprotozoários. No entanto, um percentual dentro de 30% a 40% dos cavalos acometidos ficam com sequelas e é exatamente essa sequela que nós queremos melhorar”, explica.

Os estudos tratados na reportagem são todos de universidades públicas brasileiras. Ou seja: é um investimento que traz resultados positivos para toda a sociedade.

Fonte: Portal G1


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