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Fui diagnosticado com câncer testicular e em um momento fiquei tão doente que acordei no hospital e encontrei as enfermeiras chorando. Um doador de células-tronco foi encontrado, o que resgatou minha saúde e seguiu com uma nota que mudou minha vida

No meu primeiro dia em Salvador, fui assaltado com uma faca: rapidamente percebi que tinha muito a aprender sobre viajar sozinho. Eu não sabia muito sobre onde estava e não tinha planos para onde iria em seguida, mas não estava tentado a voltar para casa, porque já tinha passado por coisas muito piores.

Em abril de 2015, passei por um transplante de células-tronco no hospital St Bartholomew em Londres. Depois de ser diagnosticado com câncer testicular e passar por quimioterapia, meu sistema imunológico não estava funcionando bem e sofri várias infecções. Os médicos me disseram que um transplante de células-tronco era minha melhor opção para voltar a ter uma saúde decente para que eu pudesse continuar lutando contra o câncer que havia se espalhado para meu peito e abdômen.

No entanto, depois de uma semana no hospital, comecei a piorar rapidamente. A primeira infusão de células-tronco, que foram colhidas do meu próprio sangue (um transplante autólogo ), não funcionou, e peguei infecções que me deixaram entrando e saindo da consciência. Nos dois meses seguintes, meu peso caiu para 45 kg (7st) e eu estava com dores constantes e excruciantes. Agora era um caso de tentar urgentemente encontrar um doador de células-tronco com células que fossem compatíveis com as minhas para tentar um segundo transplante (que pode funcionar quando as células do próprio paciente falham; infelizmente, minha mãe e meu irmão não eram compatíveis).

O câncer não era mais um problema; era o sistema imunológico do meu corpo que me mataria. Minha família começou a temer o pior. Em um momento, lembro-me de chegar e ver todas as enfermeiras da enfermaria em pé ao lado da minha cama chorando. Elas achavam que era a última vez que me veriam e eu não tinha certeza se tinha forças para continuar lutando. Os médicos me disseram que eu tinha duas semanas de vida.

Então, a instituição de caridade Anthony Nolan milagrosamente encontrou um compatível para mim, que rapidamente passou pelo doloroso procedimento de coleta de células-tronco. Em julho de 2015, eu estava lentamente começando a me recuperar. Depois de passar mais de dois meses na cama, tive que aprender a andar novamente e, em agosto de 2015, poucos dias antes do meu aniversário de 38 anos, recebi alta.

Emergi com um novo respeito pela vida e percebi que precisava aproveitar ao máximo o tempo que me restava. Minha mente corria com ideias para correr maratonas e ver o mundo, mas primeiro meu corpo tinha que se atualizar: eu mal conseguia subir as escadas até meu apartamento no primeiro andar.

Entrei em contato com meu doador de células-tronco para agradecê-lo e ele respondeu com uma nota que me disse para ir e viver minha vida, já que esse seria o maior agradecimento que ele poderia receber. “Foi um prazer doar”, ele me disse. “Abrace o futuro e viva cada dia ao máximo.” Isso acendeu um fogo em mim para me reabilitar e sair para o mundo, assim como para retribuir algo.

Em 2023, eu estava forte o suficiente para viajar e, mesmo depois de ser assaltado em Salvador, estava determinado a continuar. Trabalhei meu caminho pelo Brasil, Equador, Colômbia, Argentina, Peru e Venezuela. Subi montanhas e testemunhei a vida selvagem mais incrível da Amazônia. Quase nunca estava sozinho – fiz amizade com outros viajantes do mundo todo e fiquei honrado com a generosidade dos moradores locais quando fiquei em suas casas.

No Equador, conheci um alasquiano chamado Craig, que administra um albergue na sombra da montanha Cotopaxi, e ele se tornou meu “passeio ou morra” – ou seja, uma pessoa que é um espírito afim. Fizemos trilhas juntos, compartilhamos histórias de vida e sempre seremos amigos agora.

Quando cheguei à marca de 116 dias, eu estava em um ônibus noturno viajando pela Argentina e pensei: Ainda não posso voltar para casa. Ainda havia muito para ver e a viagem tinha se tornado uma experiência de afirmação da vida.

No total, viajei por 414 dias, passando por 10 países, sendo assaltado três vezes e tendo um acidente de moto. Em um ponto, me perdi em uma caminhada na Colômbia e quase morri de desidratação, mas consegui encontrar meu caminho novamente. O Steve que voltou não era o Steve que foi embora. A vida é preciosa e eu quero maximizá-la. Às vezes me sinto culpado por estar vivo enquanto amigos e até minha mãe já faleceram, mas devo a eles viver.

Atualmente, estou me preparando para retornar ao Equador para visitar Craig e finalmente chegar ao topo do Monte Chimborazo, a montanha mais alta do país. Posso não chegar ao topo, mas mal posso esperar pela jornada.

Fonte: Um momento que me mudou: um estranho gentil salvou minha vida – e mudou minha atitude | Vida e estilo | The Guardian


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Em 6 de novembro de 2024, um jovem residente de Yerevan, Garik Petrosyan, doou células-tronco da medula óssea para ajudar a salvar a vida de sua irmã na Alemanha.

Petrosyan disse que desde o início ele tinha certeza de que acabaria sendo identificado como um doador compatível para seu irmão, potencialmente sendo capaz de ajudar a salvar sua vida por meio de um transplante de medula óssea.

A colheita de suas células-tronco da medula óssea ocorreu no Centro de Coleta de Células-Tronco do Registro Armênio de Doadores de Medula Óssea (ABMDR) na capital armênia. Graças ao procedimento, as células-tronco doadas seriam usadas para um transplante urgente que poderia ajudar a paciente a sobreviver à sua doença relacionada ao sangue com risco de vida.

“Garik já havia doado células-tronco para sua irmã em abril deste ano, mas hoje ela mais uma vez precisa da ajuda de seu irmão, na forma de outra rodada de colheita”, disse o diretor executivo da ABMDR, Dr. Sevak Avagyan.

A colheita indolor e não invasiva foi o 44º procedimento desse tipo a ser facilitado pelo ABMDR. Assim que foi concluído, as células-tronco doadas foram confiadas a um mensageiro especial e levadas para a Alemanha.

“Cada transplante é um desafio, envolvendo o trabalho de muitos especialistas”, disse a presidente da ABMDR, Dra. Frieda Jordan. “E uma vez que o processo é iniciado, todos os envolvidos se concentram em um único objetivo, que é levar as células-tronco doadas ao paciente o mais rápido possível para ajudá-lo a sobreviver a uma doença potencialmente fatal.”

Fonte: Jovem morador de Yerevan doa células-tronco da medula óssea para salvar a vida de sua irmã


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Além dos avanços na visão, nenhum dos pacientes apresentou efeitos colaterais graves após dois anos. Estudo foi publicado na The Lancet

Pela primeira vez, um tratamento com células-tronco se mostrou eficaz na recuperação parcial da visão em pacientes com lesões graves na córnea, segundo pesquisa publicada na revista The Lancet em 7 de novembro de 2024.

O experimento envolveu quatro pessoas que receberam transplante de células-tronco. Três delas obtiveram melhorias significativas na visão, com efeitos duradouros por mais de um ano, enquanto a quarta mostrou pequena melhora.

A técnica, desenvolvida pela equipe do oftalmologista Kohji Nishida, da Universidade de Osaka, no Japão, usou células-tronco pluripotentes induzidas (iPS) — um tipo de célula reprogramada que pode ser transformada em diversos tipos de tecido.

Para isso, os cientistas coletaram células sanguíneas de um doador saudável e as reprogramaram, ou seja, alteraram seu funcionamento para que voltassem a um estado inicial, semelhante ao das células embrionárias. Em seguida, as transformaram em finas camadas de células da córnea, transparentes e específicas para regenerar a visão.

Durante a cirurgia, a equipe removeu o tecido cicatricial da córnea em um dos olhos e enxertou as células reprogramadas. “Este é um desenvolvimento empolgante”, afirmaram os pesquisadores no artigo.

Além dos avanços na visão, nenhum dos pacientes apresentou efeitos colaterais graves após dois anos. Os enxertos não formaram tumores e não foram rejeitados pelos sistemas imunológicos dos pacientes, mesmo em casos onde os imunossupressores não foram usados.

Ainda não se sabe ao certo o que proporcionou as melhorias na visão: pode ter sido a ação direta das células transplantadas ou a remoção do tecido cicatricial que favoreceu a regeneração das células naturais dos pacientes.

Nishida diz que o grupo planeja começar ensaios clínicos em março para avaliar a eficácia do tratamento. Várias outras pesquisas baseadas em células iPS estão em andamento globalmente para tratar doenças oculares.

Fonte: Cientistas conseguem restaurar visão de pacientes com células-tronco | Metrópoles


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Experimento chinês com implante de estruturas derivadas de células-tronco mantém mulher com diabetes tipo 1 livre de insulina. Mas isso não significa a cura

Um interessante relato de caso publicado pela renomada revista científica Cell ganhou repercussão na imprensa internacional por mostrar que uma paciente com diabetes tipo 1 submetida a um tratamento e experimental ficou livre das aplicações diárias de insulina pelo período de um ano.

Em entrevista ao portal da Nature, a participante do estudo, baseado no uso de células-tronco, inclusive disse: “Posso comer açúcar agora”. Mas seria essa a cura do doença? Já antecipo aos leitores: infelizmente, não”.

A voluntária escolhida para a pesquisa é uma mulher chinesa com diabetes tipo 1 há 25 anos, que necessitava fazer várias injeções diárias de insulina ao dia. O diabetes tipo 1 é uma doença autoimune e em que o sistema imunológico destrói equivocadamente as ilhotas do pâncreas que produzem insulina, o hormônio que permite à glicose entrar nas células. Sem insulina, pessoas com diabetes tipo 1 não conseguem sobreviver por muito tempo.

A paciente teve células do seu tecido gorduroso coletadas por meio de uma agulha e em seguida levadas ao laboratório. Através do uso de agentes químicos, os cientistas conseguiram fazer com que estas células do tecido gorduroso se “transformassem” em células-tronco embrionárias com o DNA da própria participante para posteriormente se diferenciarem em ilhotas. Foi um passo inédito na literatura médica.

A seguir, por meio de uma pequena cirurgia que durou menos de 1 hora, as novas ilhotas com o DNA da paciente foram implantadas no músculo reto abdominal (o famoso “tanquinho” da barriga).

A boa notícia é que, 75 dias após o procedimento, a participante não mais precisou das aplicações diárias de insulina e vem há um ano com excelente controle da glicose, inclusive parecido com o de uma pessoa sem diabetes.

Mas por que isso não pode ser considerado uma cura? Primeiro, trata-se apenas de um caso e, em ciência, é necessário que outros semelhantes sejam confirmados. Segundo, o diabetes tipo 1 é uma doença autoimune por natureza, ou seja, o “defeito” está no sistema imunológico que agride as ilhotas produtoras de insulina. Não adianta só transplantarmos milhões de ilhotas (mesmo com o DNA do paciente porque, em algum momento, o sistema imunológico irá tentar destruí-las.

Então como as ilhotas transplantadas conseguiram produzir insulina deixando a participante livres das picadas de insulina? O fato é que ela já fazia uso de medicamentos imunossupressores devido a um transplante de fígado prévio – isso fez toda a diferença nessa história. A imunossupressão impede que se possa afirmar que todo o benefício do transplante de ilhotas se deveu somente à inovação em si.

Aliás, pensando no mecanismo autoimune do diabetes tipo 1, é razoável inferir que as ilhotas transplantadas criadas em laboratório seriam destruídas se não fosse o uso de remédios imunossupressores pela participante. A inclusão de novos participantes sem uso prévio de imunossupressores poderá ajudar a esclarecer melhor os efeitos benéficos (ou não) do novo tratamento experimental.

Vale lembrar que a equipe do saudoso pesquisador brasileiro Julio Voltarelli, da USP de Ribeirão Preto, foi a primeira no mundo a testar o efeito de transplante de células-tronco em pessoas com diabetes tipo 1. O trabalho, do qual orgulhosamente faço parte, demonstrou que 90% dos participantes ficaram livres de insulina pelo período médio de seis anos.

Ao longo do seguimento, contudo, vimos que todos os pacientes voltaram a usar insulina, mesmo que em doses menores. Por isso, temos que tomar muito cuidado em usar a palavra “cura” quando se fala de tratamentos para diabetes tipo 1.

Fonte: Células-tronco para o diabetes: seria a cura da do… | VEJA


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Como intervenção de resgate nos casos de esclerose múltipla, o transplante de células-tronco hematopoiéticas (TCTH) está sendo oferecido com mais frequência nos centros com experiência nesta técnica.

Com apenas um ensaio clínico randomizado completo disponível, o TCTH continua sendo experimental, mas o número de pacientes tratados por meio deste procedimento atingiu agora números substanciais, após 20 anos de experiência em vários centros, segundo dois estudos representativos do mundo real apresentados no Congress of the European Committee for Treatment and Research in Multiple Sclerosis (ECTRIMS) de 2024.

Os dados mais recentes são totalmente compatíveis com um ensaio clínico randomizado multinacional de 2019 que descobriu que o TCTH, uma intervenção única, é relativamente bem tolerado e mais eficaz do que o tratamento modificador da doença, para uma mediana de tempo de progressão nos pacientes refratários ao tratamento com imunobiológicos.

Em relação aos 24 meses no grupo do tratamento modificador da doença, o tempo médio até a recidiva não foi alcançado entre os pacientes randomizados para o TCTH, porque houve poucos eventos.

A redução da razão de risco (RR) de progressão foi acima de 90% (RR = 0,07; p < 0,001). Outros desfechos, conforme a Expanded Disability Status Scale (EDSS), que melhorou no grupo que fez o TCTH, mas diminuiu no grupo do tratamento modificador da doença, também favoreceram o tratamento único.

Relato de duas experiências reais com TCTH

Dos dois estudos multicêntricos do mundo real apresentados no ECTRIMS, um recrutou 363 pacientes tratados em um dos 14 hospitais britânicos públicos participantes desde 2002. Essa análise não foi controlada. O outro estudo, com 97 pacientes tratados em um dos 20 centros italianos participantes desde 1999, comparou retrospectivamente o TCTH ao tratamento com alentuzumabe.

Nos dados do Reino Unido, apresentados pelo Dr. Paolo Muraro, Ph.D., médico e consultor sênior na Division of Brain Sciences do Imperial College London, na Inglaterra, 94,6% dos pacientes tinham sobrevida livre de recidiva da doença em dois anos e 88,6% em cinco anos após terem feito o TCTH. O especialista disse que os números são “impressionantes”

Fonte: https://portugues.medscape.com/verartigo/6511815?form=fpf


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Apesar dos efeitos positivos, só é possível falar em cura se a paciente produzir insulina por cinco anos após o transplante

Um artigo recente, publicado na revista Cell, sobre um estudo realizado por chineses mostrou pela primeira vez que uma mulher com diabete tipo 1 conseguiu produzir insulina após um transplante autólogo de células-tronco reprogramadas (IPS, do inglês induced pluripotent stem cells). A paciente de 25 anos recebeu uma infusão de suas próprias células-tronco diferenciadas em células produtoras de insulina nas ilhotas do pâncreas.

Antes do procedimento, os cientistas testaram a segurança e a eficácia dessas células em camundongos e, depois, em macacos. Comprovada a eficácia em estudos pré-clínicos, eles injetaram cerca de 1,5 milhão dessas ilhotas no músculo abdominal da paciente. Dois meses e meio depois, a paciente já estava produzindo uma quantidade de insulina suficiente para não necessitar de infusões constantes e essa produção tem se mantido constante por mais de um ano. Ela não tem mais sofrido as oscilações perigosas que os diabéticos têm com aumento e quedas de glicose no sangue. “Mas, segundo outros cientistas, ela só poderá ser considerada curada se continuar a produzir insulina após cinco anos”, enfatiza Mayana.

Em um estudo anterior, 12 pacientes afetados por diabete tipo 1 haviam sido tratados com células de ilhotas produzidas a partir de células-tronco embrionárias injetadas no  fígado. Três meses depois do transplante, todos eles estavam produzindo insulina, mas estavam tomando imunossupressores. Em outro estudo, as ilhotas foram inseridas com uma proteção contra o ataque do sistema imune e os pacientes estão sendo monitorados sem imunossupressão.  Mas os resultados ainda não são conhecidos.

Apesar de ser um avanço muito importante e promissor, Mayana afirma que é preciso ter cautela. No caso dessa paciente, ela já tomava drogas imunossupressoras, porque havia recebido um transplante de fígado anteriormente, o que poderia minimizar os efeitos de uma rejeição. “Além disso, não podemos esquecer que, na diabete tipo 1, o sistema imune não reconhece as ilhotas como células do próprio corpo e as rejeita. Será que isso não irá ocorrer novamente com as células tronco reprogramadas para produzir insulina?”, questiona.

Fonte: Tratamento com células-tronco traz avanços promissores contra diabete tipo 1 – Jornal da USP


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De acordo com os dados do INCA (Instituto Nacional do Câncer), o câncer de mama é o mais frequente entre as mulheres no Brasil. No Estado, o INCA aponta 910 novos casos da doença por ano, até 2025. O tratamento com medicamentos, quimioterapia e radioterapia, e outros, podem comprometer os óvulos e até levar a infertilidade.

E na campanha Outubro Rosa, o INCA faz o alerta, para possibilidade de manter a preservação da fertilidade com o congelamento dos óvulos para serem usados futuramente.

Com mais informações sobre o assunto, nesta segunda-feira (14), o programa Rádio Livre da FM 104, com a jornalista Vivianne Nunes e Bernardo Quartin, recebeu a médica especialista em Reprodução Humana da FertLiv, Suely Resende.

“Hoje com as medicações que são potentes e garantem uma sobrevida muito longa, são os quimioterápicos que destroem as células que dão origem aos futuros óvulos que formarão os bebês. Após o diagnóstico de câncer a paciênte fica abalada, até cair a ficha, é difícil falar sobre isso e parece que o mundo vem abaixo, e pensar em fertilização futura, a pressa do oncologista é de entrar com os quimioterápicos e resolver, mas muita calma nessa hora, vamos pensar, como eu falei, depois do tratamento a sobrevida é grande, vai chegar o momento em que elas vão querer filhos e com os próprios óvulos. Então é conversar com o médico, há tempo hábil para fazer a coleta, não vai atrapalhar e nem agravar o câncer.”

Créditos infomações: INCA

Fonte: Rádio Livre: Tratamento contra o câncer pode causar infertilidade – Rede E


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Recém-aprovada pela Anvisa, pesquisa é pioneira no país. Objetivo é desenvolver tecnologia nacional de terapia com o uso dessas células, permitindo tratamentos mais baratos e de baixa toxicidade

Iniciada nos anos 1950 com os transplantes de medula óssea, a terapia celular vem desbravando novas fronteiras. Uma inovação recente é a terapia com CAR-T Cell, em que linfócitos T são extraídos do sangue do paciente, modificados geneticamente em laboratório, multiplicados e reinseridos no indivíduo para atacar as células cancerígenas. Tem apresentado resultados muito positivos no tratamento de cânceres hematológicos, como alguns tipos de linfomas, leucemias e mieloma. Agora, novos horizontes estão sendo explorados com o uso de células natural killer (NK), linfócitos “inteligentes” que temos no nosso sangue. Por meio de receptores existentes em sua superfície, as células NK são capazes de, naturalmente, reconhecer células estranhas ao organismo e eliminá-las. Ou seja, podem ser usadas sem necessariamente passar por modificação genética, como no caso dos linfócitos T. As NK também podem “ler” as mensagens químicas expressas pelas células saudáveis, preservando-as do seu ataque.

É justamente essa condição que confere uma das importantes vantagens das terapias com células NK: de baixa toxicidade, dificilmente provocam a doença do enxerto contra hospedeiro, uma complicação grave que pode ocorrer quando as células transplantadas identificam as células do paciente como estranhas e passam a atacá-las. Outro ponto é que as NK manipuladas em laboratório podem ser usadas em mais de um paciente, o que torna a terapia economicamente mais viável.

As poucas pesquisas existentes no Brasil estão baseadas na obtenção de células NK do sangue de doadores saudáveis. Mas o Einstein está seguindo um caminho ainda mais revolucionário: o uso de células NK extraídas de cordão umbilical e multiplicadas em laboratório. Liderada pelo Dra. Lucila Nassif Kerbauy, que estudou a técnica durante um programa de fellowship de três anos no MD Anderson Cancer Center (EUA) financiado pelo Einstein, a pesquisa está sendo desenvolvida no âmbito do Programa de Apoio ao Desenvolvimento Institucional do Sistema Único de Saúde (PROADI-SUS).

O estudo com células NK

Depois da fase pré-clínica (estudos em bancada e em camundongos iniciados em 2019), está sendo iniciada a pesquisa clínica (fase 1), envolvendo pacientes com leucemia mileoide aguda refratária (ou seja, pacientes que não responderam às primeiras duas linhas de tratamento e para os quais não restam opções para o enfrentamento da doença). Eles receberão infusão de células NK que, depois de extraídas de cordão umbilical, são manufaturadas e multiplicadas em laboratório com citocinas (proteínas que atuam como mediadores de sinalização celular), o que faz com que fiquem melhor ativadas e, possivelmente, melhores para o tratamento. O objetivo nessa e em etapas posteriores da pesquisa é confirmar a eficácia e segurança dessa técnica e avaliar dosagens até que se tenham dados consistentes para que a terapia possa ser aprovada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para uso regular. Embora isso ainda exija alguns anos de estudos, as perspectivas são positivas, principalmente do ponto de vista do sistema público, que terá uma alternativa avançada e mais acessível para ofertar aos pacientes.

Além dos esperados bons resultados e de dispensar doadores, a técnica dinamiza o uso dos bancos públicos e privados de cordões umbilicais. No Brasil e no mundo, os estoques desse material – que envolve custos para que seja adequadamente mantido e preservado – têm sido pouco utilizados para sua finalidade original, o transplante de medula óssea. Assim, há uma demanda global pelo desenvolvimento de novas aplicações. Com um único cordão umbilical é possível tratar 10 pessoas com a terapia NK.

Outra pesquisa em andamento no Einstein, esta ainda em fase pré-clínica, está direcionada à aplicação de células NK geneticamente modificadas para expressar os chamados receptores de antígenos quiméricos (CAR), a fim de direcioná-las a alvos tumorais específicos. Trata-se de um estudo de CAR-NK, na mesma linha do que vem sendo feito com as células T (CAR-T) no Einstein e outras instituições. Os primeiros resultados são promissores.

O Einstein é uma das poucas organizações do país com estrutura para realizar esse tipo de pesquisa. Com salas limpas para manufatura das células, equipes especializadas nessa atividade (médicos, biomédicos, biólogos, farmacêuticos etc.), uma Academic Research Organization (ARO), além de toda a estrutura assistencial, é a única organização da América Latina com acreditação FACT (Foundation for the Accreditation of Cellular Therapy) para a terapia celular.

Além do câncer hematológico, as terapias tanto com células T como com NK têm potencial de aplicação também no enfrentamento de tumores sólidos. Para o Brasil, é importante estar à frente de pesquisas para o desenvolvimento de tecnologia nacional em áreas como essa, que vêm revolucionando a saúde. Para os pacientes, são novos e promissores horizontes de tratamento.

Fonte: Células NK de cordão umbilical: nova e promissora fronteira no câncer hematológico (futurodasaude.com.br)


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A terapia celular no Brasil representa uma fronteira promissora para o tratamento de diversas doenças, incluindo câncer, doenças autoimunes e degenerativas. Nos últimos anos, o país tem avançado significativamente na pesquisa e desenvolvimento dessa área, com a aplicação de terapias baseadas em células-tronco hematopoiéticas e mesenquimais, além do interesse crescente pelas terapias com células CAR-T, uma inovação no tratamento de cânceres hematológicos. A produção nacional de terapias celulares avança graças a parcerias entre centros de pesquisa e hospitais, com destaque para instituições como o Instituto Nacional de Câncer (INCA), Hospital das Clínicas de São Paulo, Hospital das Clínicas de Ribeirão preto e o Hospital Israelita Albert Ein

Em termos regulatórios, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) tem um papel central na normatização e segurança dessas terapias. Entre as principais regulamentações, estão a RDC 803/2023 que dispõe sobre boas práticas em células humanas para uso terapêutico e pesquisa clínica, a RDC 505/2021, que trata do registro desses produtos no país.

Além disso, a Instrução Normativa 270/2023 complementa essas regulamentações ao abordar as boas práticas de fabricação de produtos de terapia avançada. A Anvisa também está engajada na atualização de orientações e diretrizes para garantir que bancos de células e tecidos sigam os mais altos padrões de qualidade e controle durante todas as etapas de manipulação.

Essas regulamentações são essenciais para o avanço da terapia celular no Brasil, promovendo o acesso a tratamentos inovadores e a segurança dos pacientes através de cumprimento de padrões rigorosos.

As perspectivas para o futuro são otimistas, com o Brasil cada vez mais consolidado como um polo de pesquisa biomédica na América Latina. O desafio para os próximos anos é viabilizar o acesso a essas terapias avançadas, ampliando a rede de centros especializados e garantindo investimentos contínuos em infraestrutura e capacitação profissional. Com o avanço das pesquisas e o fortalecimento da regulamentação, a terapia celular pode se tornar um tratamento acessível e eficaz para grande parte da população.

Referências:

  • Bonamino, M., & Carvalho, S. (2018). Células CAR-T: um novo passo para a imunoterapia contra o câncer. Revista Brasileira de Cancerologia ,

  • ANVISA (2023). Resolução RDC nº 270, de 13 de dezembro de 2023. Agência Nacional de Vigilância Sanitária .


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Ela é a primeira pessoa com a condição a ser tratada no mundo usando células que foram extraídas de seu próprio corpo

“Eu posso comer açúcar agora”, diz uma mulher de 25 anos com diabetes tipo 1 que começou a produzir sua própria insulina menos de três meses após receber um transplante de células-tronco reprogramadas. Ela é a primeira pessoa com a condição a ser tratada no mundo usando células que foram extraídas de seu próprio corpo.

Já faz mais de um ano desde o transplante, mas a mulher pediu para permanecer anônima para proteger sua privacidade. James Shapiro, um cirurgião de transplante e pesquisador da Universidade de Alberta em Edmonton, Canadá, diz que os resultados da cirurgia são impressionantes. “Eles reverteram completamente o diabetes no paciente, que estava precisando de quantidades substanciais de insulina antes”.

O estudo, publicado na Cell, segue os resultados de um grupo separado em Xangai, China, que relatou em abril que havia transplantado com sucesso ilhotas (células no pâncreas) produtoras de insulina para o fígado de um homem de 59 anos com diabetes tipo 2. As ilhotas também foram derivadas de células-tronco reprogramadas retiradas do próprio corpo do homem e, desde então, ele parou de tomar insulina.

Todas as pesquisas que estão sendo realizadas no momento fazem partes de ensaios pioneiros. A maioria dos participantes tem diabetes tipo 2, em que o corpo não produz insulina suficiente ou sua capacidade de usar o hormônio diminui. No diabetes tipo 1, o sistema imunológico ataca as células das ilhotas no pâncreas.

Transplantes de ilhotas podem ajudar a tratar a doença, mas não há doadores suficientes para atender à crescente demanda, e os receptores devem usar medicamentos imunossupressores para evitar que o corpo rejeite o tecido do doador.

As células-tronco podem ser cultivadas indefinidamente em laboratório, o que significa que elas potencialmente oferecem uma fonte ilimitada de tecido pancreático. Ao usar as células da própria pessoa, os pesquisadores esperam evitar a necessidade de imunossupressores.

No primeiro teste desse tipo, Deng Hongkui, um biólogo celular da Universidade de Pequim, e seus colegas extraíram células de três pessoas com diabetes tipo 1 e as reverteram para um estado pluripotente, a partir do qual elas poderiam ser moldadas em qualquer tipo de célula do corpo.

Em junho de 2023, em uma operação que durou menos de meia hora, eles injetaram o equivalente a aproximadamente 1,5 milhão de ilhotas nos músculos abdominais da mulher. A maioria dos transplantes de ilhotas é injetada no fígado, onde as células não podem ser observadas. Entretanto, com a mudança do local, os pesquisadores, por meio de ressonância magnética, puderam observar e monitorar as células, assim como poderiam removê-las se fosse necessário.

Dois meses e meio depois, a paciente estava produzindo insulina suficiente para viver sem precisar de recargas, e ela manteve esse nível de produção por mais de um ano. Naquela época, a mulher havia parado de sentir os picos e quedas perigosos nos níveis de glicose no sangue.

Como a mulher já estava recebendo imunossupressores para um transplante de fígado anterior, os pesquisadores não puderam avaliar se as células reduziram o risco de rejeição do enxerto.

Mesmo que o corpo não rejeite o transplante porque não considera as células como “estranhas”, em pessoas com diabetes tipo 1, por terem uma condição autoimune, ainda há um risco de que o corpo possa atacar as ilhotas.

Apesar do resultado ser satisfatório, os pesquisadores afirmam que ainda é cedo para ter qualquer conclusão, eles precisam ser replicados em mais pessoas e precisam de mais tempo. Eles querem ver, por exemplo, se as células vão continuar a produzir insulina no corpo da mulher por mais cinco anos até considerá-la “curada” de fato.

Hongkui afirma que os resultados para os outros dois participantes são “também muito positivos”, e eles atingirão a marca de um ano em novembro, após o que ele espera expandir o teste para outros 20 pacientes.

Fonte: Células-tronco revertem diabetes tipo 1 em mulher pela primeira vez; entenda (globo.com)